A gravidade dos problemas que me trouxeste só me faz declinar cada vez mais. Outrora, o alheio classificava-me como um monte jovem, recém-nascido de milhares de anos. Não estava nem um pouco errado, já que quando eu era monte, não me era exercida tanta pressão. A densidade de meus problemas era tão rarefeita quanto o ar, porém, contrariando a física, minha felicidade era densa em demasia.
Foi
aí que eu conheci você, mera pressão, para estragar os enlaços
perfeitamente codificados de minha vida. Chegou nada sorrateiramente,
mas agiu devagar. Aos poucos, de monte virei planície, como se a vida
tivesse me ensinado a firmar-me ao chão. Ao nível do mar eu podia
abrigar-me ao cheiro de salinização e, reconfortante como ele era,
fingir que a felicidade ainda não começara a me escapar. Porém, quanto
mais próximo de todo conforto possível, quanto mais camuflada estava
minha infelicidade, mais infeliz eu ficava. Eram poucos os momentos em
que, com o passar dos dias, finalmente caia em si e percebia. Mas esses
momentos lúcidos eram esquecidos com qualquer agrado que as planícies
têm a oferecer.
Até
que finalmente, me entreguei ao mar dos problemas. Mergulhei tão fundo
quanto conseguia, o mais rápido que meu corpo permitia. Dez metros de
profundidade e eu já me considerava compenetrada nos problemas, a
mestra, a ninja. Eles eram tão constantes que outras situações já não se
tornavam tão importantes. E eu os guardava só para mim. Assim, quando
mergulhei mais dez metros a fundo, podia sentir a pressão corporal de
meu pseudo-egoísmo contra a pressão de meus próprios problemas,
sufocando-me, tomando-me, injetando-me com tal eficiência que meu corpo
começava a não funcionar. Finalmente, mais dez metros abaixo, eu comecei
a perder a consciência. Entreguei-me a todos os problemas, e a física,
de bom grado, explicou-me que, 30 metros a fundo daquele mar de
problemas, eu não poderia mais suportar a pressão. Fechei os olhos à
espera que meu corpo já vazio boiasse para a superfície do mar. Porém a
densidade explicou-me que eu, por ser mais densa, teria que descer até o
âmbito do inesperado. Disse adeus a todas as explicações, esperando às
conclusões de um talvez outro nível de vida, esperançosa por um mar de
esperanças.
Originalmente publicado em: http://promessas-catalogadas.blogspot.com.br/2012/09/e-eu-devia-estar-estudando-para-prova.html
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Uia! Que texto mais denso e complexo! Muita sensibilidade! Forte! Rico! Já disse que amei a Lívia? Pois é! Amei de verdade! Não é a primeira vez que eu a leio. Lívia, tu é magnífica!
ResponderExcluirEliziane Dias
Um texto profundo, acho que fala muito daquele velho ditado "no fundo do poço". Triste sim, mas belo ao mesmo tempo.
ResponderExcluirLiteralmente acho que ás vezes precisamos afundar um pouco.
Beijinhos, Helana ♥
In The Sky, Blog / Facebook In The Sky
Metafísico. Poético. Cheio de metáforas da própria vida.
ResponderExcluir"Dez metros de profundidade e eu já me considerava compenetrada nos problemas, a mestra, a ninja. Eles eram tão constantes que outras situações já não se tornavam tão importantes." - essa parte é especialmente incrível!
Oi, Lívia. Primeiro, gostaria de te elogiar e dizer que escreve super bem, amei demais a sua escrita. Esse texto ficou bem complexo e incrível, meus parabéns! Continue sempre com esse talento maravilhoso e sucesso!
ResponderExcluirEste sim é um texto realmente bom!!! Tenho lido muitos textos ruins que chega a me incomodar pela falta de perspicácia literária, mas este, háaa este sim, é um ótimo texto!!!
ResponderExcluirOlá, como vai?
ResponderExcluirNão só 10 metros de profundidade, mas metros de reflexão e auto conhecimento.
Achei o texto bem intenso.
Parabéns.
Beijo
https://qadulta.blogspot.com.br/