(Essa é uma fita para a Dona Saudade)
Na
semana passada o professor tinha proposto uma narrativa descrevendo a
maior emoção de nossas vidas. Pela mente de muitos se passaram mortes,
alegrias, expectativas, viagens, presentes e momentos que, por mim,
passariam longe de ser uma das maiores emoções. Exceto perdas ou mortes.
Bem, digamos que o assunto central da minha redação é uma morte, e
consequentemente uma perda. Mas é um assunto feliz. Não é de fato a
maior emoção de minha vida, porque vejamos bem, minha vida nem começou
ainda. Porém, é uma das que eu nunca esquecerei... Ela está contigo,
Dona Saudade. É só uma lembrança.
É
duma época em que não me passavam pela cabeça problemas e preocupações.
É também de uma viagem, mas não é dela nem do lugar necessariamente. É
do momento. Aquele momento em que todos da família se sentaram numa mesa
quadrada, pequena, naquela casinha emprestada pelo amigo de um dos meus
parentes, uma casa de um quarto só. Estávamos nos servindo do macarrão
que eu considero o melhor de todos. Não era da melhor marca, nem tinha
os melhores temperos possíveis. Ele estava bem amanteigado, mas ele
tinha gosto de... Felicidade. É isso. Eu nunca me esquecerei do sabor
daquele macarrão. Por incrível que pareça, eu considero essa a lembrança
mais feliz de minha vida. Eu já tive algumas experiências bem mais
legais e bem mais excitantes que essa, porém, essa daí, pela
simplicidade que ela compõe, vence. E eu não sei o exato por que. Talvez
seja pelos sorrisos, pelas conversas, ou porque naquele instante
parecia como se nossas vidas não tivessem nenhuma responsabilidade,
nenhuma preocupação. Ninguém derrubou comida na mesa, e todos lavaram a
louça. Ninguém brigou, ninguém desobedeceu. Ninguém se sentiu
desconfortável, em nenhum momento. E então, eu me recordo de meu pai ter
colocado a máquina para disparar, para que assim, guardássemos uma foto
daquele momento. Hoje já não a tenho, mas se a encontrasse poderia
sentir... Ali, a felicidade estaria estagnada, aprisionada, e tão...
Encantada. Eu provavelmente choraria. E a culpa é sua, Dona Saudade, de
me fazer querer aquilo tudo de volta. A culpa é toda sua de trazer esse
fundo poço de desconforto que sinto toda vez que penso nesse momento.
E
é por isso que essa fita é endereçada a ti. Não acho minha semana
demasiada interessante para detalhar aqui, porém, gostaria de deixar
claro que a Senhorita Infelicidade viera me visitar no fim da semana de
novo. Tão boazinha, ela deixa rastros toda a semana e vem fortalecê-los
antes que desapareçam. Antes que a fita acabe, Dona Saudade, gostaria de
cobrar-lhe aquelas gotas de entorpecimento toda a vez que me lembro de
ti.
Abraços,
Rursus.
Originalmente publicado em: http://promessas-catalogadas.blogspot.com.br/2012/09/fita-para-dona-saudade.html
Que texto! *0* não consigo descrever em palavras o quão lindo achei
ResponderExcluirAs melhores coisas estão nos detalhes.
ResponderExcluirParabéns pelo texto. Tocante, sincero e autêntico. Já estou indo ler outros :)
Gostei bastante do texto, a escrita está excelente também. Adoro esse blog, ler os textos daqui sempre me acrescenta algo!
ResponderExcluirEsse blog já tem espaço garantido no meu ♥
ResponderExcluirTextos maravilhosos!
Gostei muito do texto, muito autêntico! Texto perfeito como os outros.
ResponderExcluirMais uma vezes venho aqui e acabo lendo mais um texto ótimo. Parabéns a escritora pela complexidade do trabalho.
ResponderExcluirAbraços,
Uiara Melo
Como não gostar do blog? Sempre com textos lindos, lindos, lindos!
ResponderExcluirEntrei completamente naquele ambiente, estava até disposta a ler uma narrativa maior, sabe? Fiquei envolvida logo do inicio... Parabéns ao autor!
Beijos
Pseudo Psicologia Barata
Ah dona Saudade! Lido com ela nesses tempos repletos de problemas! Como gostaria de voltar e reviver momentos que marcaram. Seu texto mexeu comigo. E como!
ResponderExcluirParabéns! <3
Ah, quantas saudades este texto me trouxe agora.
ResponderExcluirSaudades dos meus pais e da minha infância. Saudades da garota sonhadora que um dia eu fui...saudades, saudades...
Essa Dona Saudade do conto é prima de primeiro grau da Dona Vida. Uma alimenta a outra, uma depende da outra.
ResponderExcluirGostei... mais uma vez!
Bem articulado, faz uso de linguagem coloquial. Gostei. Parabéns!
ResponderExcluirAh, que texto... Quando estava lendo, pude sentir a dor da saudade em cada palavra. A vida é tão breve... como um piscar de olhos.
ResponderExcluirParabéns pelo texto!
Amei!
Oie, tudo bem? Acredito que esteja emotiva hoje, mas os textos que estou lendo são de uma profundidade incrível. Além é claro de causar-me grande nostalgia. A saudade sempre vem nos fazer companhia, as vezes nos momentos em que menos esperamos. Excelente texto, parabéns. Beijos, Érika ^^
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