Viu estrelas e cometas passarem preenchendo aquela galáxia tão cheia de
vazios. Viu a luz do Sol enfraquecer e a Terra diminuir sem que houvesse
um horizonte onde se esconder. E na solidão de uma pequena nave pensou
em sua amada tentando esquecê-la. De que valia amar alguém que partira
em uma viagem sem volta?
O astronauta, veterano de uma guerra outrora presente apenas na ficção,
partia para um planeta distante não com a esperança de recomeçar, mas
apenas encontrar um final melhor. Viveria em uma terra estranha e de
falsos amigos. Deveria ser sua sentença por não gritar o que sentia
enquanto era tempo.
Sequer imaginava que ainda nem começara a viver.
Sob disfarces e mentiras foi bem recebido por uma princesa com nome de
flor. E, quem diria, em sua vida de espião encontrou a verdade. Ela era
princesa, era esposa e era mãe, e para ele tornou-se amiga. Novamente
amizade. Sempre amizade. Ela falava da vida, dos medos, dos tempos
perdidos. Em seu quase-silêncio o homem tudo escutava.
Mal percebeu quando em seu jardim morriam os lírios e nasciam narcisos.
Tão vivos quanto a filha do rei ao qual jamais serviria.
Guerras foram declaradas e ele cumpria seu papel sem questionar.
Batalhas se faziam no céu infinito onde o grito de guerreiros se perdeu
sem jamais ecoar. Mas seu lugar era no chão, entre as flores do novo
jardim que aprendera a cultivar.
A bela flor estava solitária. Com um príncipe distante ela mostrou-se
menos princesa e mais flor, menos amiga e mais amor. Sob a luz de um
velho sol que parecia sempre se por, o astronauta espião compreendeu que
em seu coração habitava um novo amor. Um amor proibido, mas ao menos um
amor correspondido.
Originalmente publicado em: http://oreinoperdido.blogspot.com.br/2015/12/sob-luz-de-outro-sol.html
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