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Um breve ensaio breve sobre a escrita de Roberto Camilotti



By  Coletivo Poesia Marginal     10:49:00    Marcadores: 
 
      Roberto Camilotti é um contista, vindo de uma safra novíssima de escritores brasileiros: publicou apenas 13 contos, todos de qualidade elevada. Natural do interior de São Paulo, sua literatura não reconhece limites, geográficos ou não. Tudo que sua excelente capacidade de descrição psicológica consegue tornar crível, ele escreve, desde magos criando um oásis em meio a um deserto até uma revolução em um país fictício. 
           A intenção desse ensaio é analisar uma das principais características dos contos de Roberto, e os recursos literários que se utiliza para que sejam bem executadas, através da leitura do conto "De Uma Breve Vida Breve em Edvard Hespanhol". A escolha do corpus se deu por ser um conto de tamanho razoável, com uma grande quantidade de personagens, além de possuir o universo mais vasto dentre os criados pelo autor. Recomenda-se fortemente a leitura do conto, que foi publicado aqui, tanto por sua qualidade, quanto pela presença de spoilers no decorrer do ensaio.
          O Conto trata sobre a vida de Edvard Hespanhol, e seu nome no titulo do conto bem como o fato de ser o narrador são das poucas pistas que demonstram isso de forma direta. De fato, a maior parte do que é dito e contado nas obras de Camilotti é de forma indireta, o que constitui um de seus maiores trunfos. Isso é facilmente identificável ao longo do conto, dada sua importância na narrativa.
          No começo podemos ver que não existe descrição de Edvard, o que se estende pela maior parte do conto. Outro detalhe importante que reforça essa tese pode ser visto no primeiro paragrafo, a forma como a opinião do narrador é expressada, diretamente. A primeira, vem após a opinião dos figurantes, a respeito do presidente. A segunda, através de inversão, segue o mesmo padrão, e só na terceira e ultima opinião do paragrafo, o narrador diz primeiro. 
        Marca-se aqui uma posição, a história principal vem em segundo plano, sendo contada através das outras, que são inúmeras, todas ligadas ao protagonista, que tem pouco da sua efetiva história contada de forma direta. De fato, a história de Silverclay, que quase se perde em meio a história do pais, de seus pais e do presidente golpista - Fora Temer - é maior do que a história do garoto apaixonado por livros (livros mesmo, não literatura).
         A personalidade do rapaz é muito mais conhecida pelo tom raivoso e odioso com que o conto é narrado - vale citar, aliás, o contraste dos termos "papai" e "mamãe" com o resto da narrativa, não é gratuito, mas uma forma de demonstrar (de forma implícita, é claro) uma das poucas quebras na personalidade arredia do protagonista  - do que pelas poucas vezes em que decide dar alguma informação direta aos leitores - mesmo assim, apenas porque a história assim o pede -, como exemplo:

Quando mais jovem, gozando da onipotência típica daqueles que têm pouca experiência de vida, fiquei dias fora de casa sem avisá-la, na gandaia, na zoação com os amigos. Talvez tivesse pensado de forma equivocada que o meu desaparecimento era porquê queria relembrar os velhos tempos.

       Sobre suas características físicas, bom... Ele é branco, e é isso. Não que o autor tenha escrito isso, mas Silverclay o chama de racista, em certo ponto da história. Afora isso, aqueles que se permitirem apaixonar por Edvard - não por ele ser um personagem apaixonante e idealizado, mas por ser crível e assim permitindo envolvimento do publico - terá de se contentar em vê-lo se envolver nas histórias que o cercam.
      Como seu envolvimento com a política é por razão da perseguição e posterior assassinato de seu pai, com sua parte em um plano de revolução que não é seu e em sofrer por uma morte que, mesmo em campo de batalha, não é como soldado. Sua escolha por parte de Rafaelo foi estratégica sim, mas não como soldado, ele sequer teve treinamento, foi mero incentivo para os guerrilheiros. Usado para impor "sangue nos olhos" de desconhecidos, através da morte de seu pai.
         Mais que sua idade - não sabemos ao certo, mas trata-se de um jovem estudante -, a tese aqui exposta justifica a dupla adjetivação "breve" para a vida de Edvard Hespanhol.

2 comentários:

  1. Como agradecer tamanho apoio que venho recebendo neste curto período de blogueiro: OBRIGADO, VITOR!

    Gosto muito desse conto; um dois mais psicológicos que escrevi até agora. Me faz relembrar que a vida é breve e exatamente por isso tão misteriosa e bela.

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  2. Que linda homenagem ao nosso querido Rob.
    Adorei conhecer um pouco mais sobre ele. Adoro ler os os contos que ele escreve.
    Parabéns, Vítor, pela belíssimo apoio.
    Beijos
    Cássia Pires

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