Nunca entendi
muito bem a fixação do ser humano em tornar um sentimento imortal. Amor tem que
ser eterno. Amizade, pra sempre. E, ainda, eles necessitam tender ao infinito,
pra somente assim um sentimento ser valorizado defronte à vida. Pra se dizer
que vale a pena viver, vale a pena observar, e, vejam só, vale até muito a pena
invejar. Mas se a própria vida é finita,
mortal, por que nossos sentimentos teriam de ser jogados num tempo
incalculável?
Pois quem nunca
teve uma amizade-quase-fraternidade tão grande, tão complexa, tão completa e tão íntima, que, de repente, com o
afastar do tempo e do espaço, com o afastar do convívio e das vivências, se
extinguiu? Quem irá subestimar o valor daquilo, só porque não durou a vida
eterna? Já diziam por aí num desses bests-sellers da vida: “Alguns infinitos
são maiores que os outros”. Permita-me
acrescentar: alguns infinitos são ínfimos. E esses mesmos, às vezes, são os que
mais valem a pena. Esses que nos fazem sorrir ao ser lembrados, que nos
nostalgeiam o coração e nos dão um choque de presença física. Esses que
compartilhamos e fazemos invejar o próximo, esses que fazem os olhos brilharem:
não são esses que se tornam eternos em nossas reles memórias?
E quem dirá do
amor dos enamorados que muitas vezes enojam as criaturas apáticas e fazem
sorrir algumas passageiras? Aquele amor tão fortificado, engrandecido,
iluminado, que se acaba dali a mais um mês ou menos um ano. E porque se acaba,
é jogado a ribanceira, é humilhado, exilado da memória. Simplesmente porque,
aparentemente, não foi infinito. Mas e quando os apaixonados se entreolhavam e
a distância entre os olhos, assim como a vida, se tornava atemporal, assim como
as bochechas sorrindo pareciam em sintonia... Eles não estavam se sentindo
infinitos? E todo o encanto dos primeiros momentos, desde frio na barriga ao
nervosismo pós primeira briga, quem irá dizer que esses não foram eternos
enquanto duraram?
Pois se até
nossa existência é incalculavelmente insignificante, e, assim mesmo, vivemos a
fazer questão de tornamos alguma coisa de nós imortal, por que, ao invés de
desprezarmos os sentimentos acabados, não percebemos que alguns merecem ser
eternizados? A existência mantém-se mortal, mas não precisamos fazer dela algo
finito. Que se desinfinite os sentimentos, infinitando cada vez mais o nosso
existir.
Originalmente postado em: http://promessas-catalogadas.blogspot.com.br/2015/01/elixir.html
Originalmente postado em: http://promessas-catalogadas.blogspot.com.br/2015/01/elixir.html
Belo e verdadeiro esse texto! Gosto de pensar na frase: "Que o amor seja eterno enquanto dure!"
ResponderExcluirJá presenciei casamentos onde os noivos juraram amor infinito e esse amor não passou de fogo de palha.
Beijo!
Isso me lembra quando coloquei em meu status, do msn ainda na época, "Que seja eterno enquanto dure" e a pessoa colocou no dela "E que dure para sempre"...
ExcluirQue lindo texto, me trouxe à memória alguns relacionamentos que não deram certo por pura infantilidade, após o termino e bastante tempo depois só guardava tristeza e mágoa, mas hoje entendo que isso me ajudou a crescer e amadurecer.
ResponderExcluirSim, a maturidade é muito importante em relacionamentos, felizes aqueles que conquistam ela junto aos seus parceiros.
ExcluirColetiva, cativa tua parcerias com bastante atenção que essa crônica tem seu valor, rs. Clara direta e concisa, do jeito que eu gosto, embora nem sempre consiga o mesmo com meus contos, rs.
ResponderExcluirMuito bom. Talvez, os sentimentos não sejam tão infinitos o quanto pensamos que são.
Obrigado, Rob <3
ExcluirEu diria sim que "claro, direto e conciso" são adjetivos que cabem bem em seus contos.
Intensa e me fez refletir um pouco mais sobre a vida,amores e amizades. Sei que nada é eterno,mas que seja infinito enquanto aqui estivermos.
ResponderExcluirParabéns!
Amei.
Cássia Pires( Blog Meu cantinho literário).
Muito obrigado!
ExcluirExcelente texto, ficou maravilhoso!
ResponderExcluirHoje em dia amores não são mais eternos,infelizmente!!
Por que infelizmente?
ExcluirEstou a ler pela quinta vez, acredita??
ResponderExcluirAdoro a sua escrita e me identifico imenso com ela!
Amooo: "Pois se até nossa existência é incalculavelmente insignificante, e, assim mesmo, vivemos a fazer questão de tornamos alguma coisa de nós imortal, por que, ao invés de desprezarmos os sentimentos acabados, não percebemos que alguns merecem ser eternizados?"
Não pare de escrever! Beijos
Pseudo Psicologia Barata
Muito obrigado pelos elogios, e vou me certificar que ela não pare ;)
ExcluirSenti uma grande conexão com esse texto. Escrita impecável e o que mais me admira é a facilidade com a qual passou a sua ideia (ou, ao menos, assim me pareceu rs). Gostaria de adicionar que o infinito tornou-se banal a ponto de ser descrito como uma medida de tempo. Mas que diabos! O infinito é, afinal, inexistente. Incoerente. E incrivelmente pequeno, ao que sabemos. O eterno é questão de ponto de vista e o que eu desejo para os relacionamentos é que sejam intensos, por pouco ou muito tempo. No final das contas, é isso que vale.
ResponderExcluirMuito obrigado pelos elogios, e concordo plenamente com seu acréscimo <3
ExcluirOii, tudo bem?
ResponderExcluirEsse texto é maravilhoso e com certeza me fez refletir muito. As vezes por mais que queiramos que uma coisa seja infinita as vezes não é para ser.
Fico feliz que o texto te gerou reflexão, Giovana!
ExcluirRealmente, não deveríamos querer tornar algumas coisas mortais em imortais.
ResponderExcluirIsso é utopia e seria super estimar algo que sinceramente, nem sabemos explicar.
Adorei o comentário <3
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